segunda-feira, 13 de junho de 2016

Papa Francisco: “A compaixão é de alguma forma a alma da Medicina” Discurso do Papa Francisco a cerca de 150 Diretores das Ordens dos Médicos da Espanha e América Latina

Cerca de 150 Diretores das Ordens dos Médicos da Espanha e América Latina se encontram com o Papa Francisco nessa quinta-feira.
Proferindo seu discurso em espanhol, o Pontífice destacou que “este ano a Igreja Católica celebra o Jubileu da Misericórdia”. Este encontro é “uma boa ocasião para manifestar reconhecimento e gratidão a todos os profissionais da saúde que, com sua dedicação, proximidade e profissionalismo às pessoas que padecem uma enfermidade, podem se tornar uma verdadeira personificação da misericórdia”.
“A identidade e o compromisso do médico não se apoia somente em sua ciência e competência técnica, mas principalmente em sua atitude compassiva e misericordiosa aos que sofrem no corpo e no espírito. A compaixão é de alguma forma a alma da Medicina. A compaixão não é lástima, é padecer-com”, disse ainda Francisco.
“Em nossa cultura tecnológica e individualista, a compaixão nem sempre é bem vista. Em algumas ocasiões é desprezada porque significa submeter quem a recebe a uma humilhação. Não faltam aqueles que se escondem atrás de uma suposta compaixão para justificar e aprovar a morte de um doente. Não, a verdadeira compaixão não marginaliza ninguém, não o humilha e nem o exclui, nem muito menos considera como algo bom o seu desaparecimento.”
“Vocês sabem muito bem que isso significaria o triunfo do egoísmo, dessa cultura do descarte que rejeita e despreza as pessoas que não atendem a determinados padrões de saúde, beleza e utilidade. Eu gosto de abençoar as mãos dos médicos como sinal de reconhecimento a esta compaixão que se torna carícia de saúde”, frisou o Papa.
“A saúde é um dos dons mais preciosos e desejados por todos. Na tradição bíblica sempre se destacou a proximidade entre salvação e saúde, bem como suas implicações mútuas e numerosas. Eu gosto de lembrar o título com o qual os Padres da Igreja denominam Cristo e sua obra de salvação: Christus medicus. Ele é o Bom Pastor que cuida da ovelha ferida e conforta a enferma. Ele é o Bom Samaritano que não passa distante da pessoa ferida ao longo do caminho, mas viu, teve compaixão, aproximou-se dela e fez curativos.”
“A tradição médica cristã sempre se inspirou na parábola do Bom Samaritano. É um identificar-se com o amor do Filho de Deus que passou fazendo o bem e curando todos os oprimidos. Quanto bem faz à Medicina pensar e sentir que a pessoa doente é nosso próximo, que é de nossa carne e sangue, e que em seu corpo dilacerado se reflete o mistério da carne do próprio Cristo! «Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram», disse Francisco citando um versículo do Evangelho de Mateus.
“A compaixão é a resposta adequada ao valor imenso da pessoa enferma, uma resposta feita de respeito, compreensão e ternura, porque o valor sagrado da vida do doente não desaparece e não se escurece nunca, mas brilha com mais esplendor em seu sofrimento e desamparo.”
O Papa aconselhou a entender bem a recomendação de São Camilo de Lellis ao tratar os doentes: «Ponham mais coração nas mãos». “A fragilidade, a dor e a enfermidade são uma provação dura para todos, inclusive para os médicos, são um chamado à paciência e ao padecer-com. Por isso, não se pode ceder à tentação funcionalista de aplicar soluções rápidas e drásticas, movidos por uma falsa compaixão ou por meros critérios de eficiência e redução de custos. Está em jogo a dignidade da vida humana. Está em jogo a dignidade da vocação médica”, sublinhou o pontífice.
Francisco agradeceu a todos os presentes pelos esforços que realizam a fim de dignificar todos os dias a sua profissão e acompanhar, cuidar e valorizar o dom imenso que as pessoas doentes significam. (Com informações Rádio Vaticano)

Papa: Insultos, palavrões, hipocrisias: tudo tapa na alma do irmão Homilia do Papa Francisco na Capela da Casa Santa Marta

Insultos, palavrões, hipocrisias: tudo tapa na alma do irmão que provocam guerras e nunca levam a uma verdadeira reconciliação. Culpa também daquele “idealismo rígido” que não permite olhar além do próprio nariz e de colocar-se de acordo com o outro.
“É importante ouvir isso, disse o Papa, neste período em que estamos tão acostumados aos adjetivos e temos um vocabulário tão criativo para insultar os outros”.
“Quantas vezes nós na Igreja ouvimos essas coisas: quantas vezes! ‘Mas, aquele padre, aquele homem, aquela mulher da Ação Católica, aquele Bispo, aquele Papa nos dizem: ‘Vocês têm que fazer assim!’, e ele faz o contrário. Este é o escândalo que fere o povo e não deixa que o povo de Deus cresça, prossiga. Não liberta. Aquele povo tinha visto a rigidez desses escribas e fariseus. Inclusive quando havia um profeta que trazia um pouco de alegria, era perseguido e o matavam: não havia lugar para os profetas ali. E Jesus diz a eles, aos fariseus: ‘Vocês mataram os profetas, os perseguiram: eles que traziam novo ar’”.
“A generosidade, a santidade”, que nos pede Jesus, “é sair, mas sempre, sempre para cima. Sair para cima”. Esta, disse Francisco, é a “libertação” da “rigidez da lei e também dos idealismos que não nos fazem bem”. Jesus, – comentou em seguida -, “nos conhece bem”, “conhece a nossa natureza”. Portanto, nos exorta a chegarmos a um acordo quando temos um contraste com o outro. “Jesus – disse o Papa – também nos ensina um realismo saudável”. “Muitas vezes – acrescentou – você não pode alcançar a perfeição, mas, pelo menos, faça o que você puder, chegue a um acordo”:
“Este é o realismo saudável da Igreja Católica, a Igreja Católica nunca ensina ‘ou isto ou aquilo’. Isso não é católico. A Igreja diz: ‘Este e este’. ‘Faz a perfeição: reconcilie-se com seu irmão. Não insultá-lo, mas Amá-lo. Mas se houver qualquer problema, pelo menos, coloque-se de acordo, para não iniciar uma guerra. Esse é o realismo saudável do catolicismo. Não é católico dizer “ou isto ou nada”: isso não é católico. Isso é herético. Jesus sempre sabe como caminhar conosco, nos dá o ideal, nos leva em direção ao ideal, libertar-nos deste encarceramento da rigidez da lei e nos diz: “Mas, façam até o ponto que vocês podem fazer’. E ele nos conhece bem. É este o nosso Senhor, é isso o que Ele nos ensina”.
“Eu me permito de dizer-lhes esta palavra que parece um pouco estranha: é a pequena santidade da negociação. ‘Mas, eu não posso tudo, mas eu quero fazer tudo, mas eu me coloco de acordo com você, pelo menos não nos insultamos, não fazemos a guerra e vivemos todos em paz’. Jesus é grande! Ele nos liberta de todas as nossas misérias. Também daquele idealismo que não é católico. Peçamos ao Senhor que nos ensine, em primeiro lugar, a sair de toda rigidez, mas sair para cima, para sermos capazes de adorar e louvar a Deus; que nos ensine a nos reconciliarmos entre nós; e também, nos ensine a colocarmo-nos de acordo até o ponto que podemos fazê-lo”.
Referindo-se à presença de crianças na Missa, exortou a ficar “tranquilos”, “porque a pregação de uma criança na igreja é mais bela que a de um padre, de um bispo e do Papa”. “É a voz da inocência que faz bem a todos”, disse

Papa Francisco: “O excesso de informação de que dispomos torna-nos imunes às tragédias dos outros”

oje cedo o PapaFrancisco visitou por duas horas a Sede do Programa Mundial Alimentar (PMA), onde foi recebido pela Diretora Executiva Ertharin Cousin.
O pontífice se dirigiu aos presentes na Sessão Anual do Conselho Executivo do Programa Mundial Alimentar com o seguinte discurso:
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Agradeço à Diretora Executiva, Senhora Ertharin Cousin, ter-me convidado a inaugurar a Sessão Anual 2016 do Conselho Executivo do Programa Alimentar Mundial, bem como as palavras de boas-vindas que me dirigiu. De igual modo saúdo a Embaixadora Stephanie Hochstetter Skinner-Klée, Presidente desta importante assembleia que reúne os Representantes dos vários governos chamados a tomar medidas concretas na luta contra a fome. E ao mesmo tempo que saúdo a todos vós aqui reunidos, agradeço tantos esforços e compromissos com uma causa que não pode deixar de nos interpelar: a luta contra a fome que sofrem muitos dos nossos irmãos.
Há pouco rezei diante do «Muro da Memória», testemunha do sacrifício feito pelos membros deste Organismo, dando a sua vida para que, mesmo no meio de complexas vicissitudes, não faltasse o pão aos famintos. Memória que devemos manter para continuar a lutar, com o mesmo vigor, pela meta tão ansiada da «fome zero». Aqueles nomes gravados à entrada desta Casa são um sinal eloquente de que o PAM, longe de ser uma estrutura anónima e formal, constitui um válido instrumento da comunidade internacional para empreender atividades sempre mais vigorosas e eficazes. A credibilidade duma instituição não se baseia nas suas declarações, mas nas ações realizadas pelos seus membros. Baseia-se nos seus testemunhos.
No mundo interconectado e híper-comunicativo em que vivemos, as distâncias geográficas parecem encurtar-se. Temos a possibilidade de contacto quase simultâneo com o que está a acontecer no outro lado do planeta. Graças às tecnologias da comunicação, aproximamo-nos de muitas situações dolorosas; e tais meios podem ajudar (e têm ajudado) a mobilizar para gestos de compaixão e solidariedade. Paradoxalmente, porém, esta aparente proximidade criada pela informação, vemo-la diluir-se de dia para dia. O excesso de informação de que dispomos gera gradualmente a habituação à miséria; ou seja, pouco a pouco tornamo-nos imunes às tragédias dos outros, considerando-as como qualquer coisa de «natural»; em nós gera-se – desculpa o neologismo – a «naturalização» da miséria. São tantas as imagens que nos invadem onde vemos o sofrimento, mas não o tocamos; ouvimos o pranto, mas não o consolamos; vemos a sede, mas não a saciamos. Assim, muitas vidas entram a fazer parte duma notícia que, em pouco tempo, acabará substituída por outra. E, enquanto mudam as notícias, o sofrimento, a fome e a sede não mudam, permanecem. Esta tendência – ou tentação – exige de nós um passo mais e, por sua vez, revela o papel fundamental que instituições como a vossa têm no cenário global. Hoje não podemos dar-nos por satisfeitos apenas com o facto de conhecer a situação de muitos dos nossos irmãos. As estatísticas não nos saciam. Não é suficiente elaborar longas reflexões ou submergir-nos em discussões infindáveis sobre as mesmas, repetindo continuamente argumentos já conhecidos por todos. É necessário «desnaturalizar» a miséria, deixando de considerá-la como um dado entre muitos outros da realidade. Por quê? Porque a miséria tem um rosto. Tem o rosto duma criança, tem o rosto duma família, tem o rosto de jovens e idosos. Tem o rosto da falta de oportunidades e de emprego de muitas pessoas, tem o rosto das migrações forçadas, das casas abandonadas ou destruídas. Não podemos «naturalizar» a fome de tantas pessoas; não nos é lícito afirmar que a sua situação é fruto dum destino cego contra o qual nada podemos fazer. Quando a miséria deixa de ter um rosto, podemos cair na tentação de começar a falar e discutir sobre «a fome», «a alimentação», «a violência», deixando de lado o sujeito concreto, real, que continua ainda hoje a bater às nossas portas. Quando faltam os rostos e as histórias, as vidas começam a transformar-se em números e assim, pouco a pouco, corremos o risco de burocratizar o sofrimento alheio. As burocracias ocupam-se de procedimentos; a compaixão – não a pena, mas a compaixão, o padecer com –, pelo contrário, põe-nos em campo em prol das pessoas. E, nisto, acho que temos muito trabalho a fazer. Juntamente com todas as ações já em curso, é necessário trabalhar por «desnaturalizar» e desburocratizar a miséria e a fome dos nossos irmãos. Isto exige de nós, em diversa escala e a diferentes níveis, uma intervenção em que apareça como objetivo dos nossos esforços a pessoa concreta que sofre e tem fome, mas que encerra também uma imensa riqueza de energias e potencialidades que devemos ajudar a concretizar.
1. «Desnaturalizar» a miséria
Quando estive na FAO, por ocasião da II Conferência Internacional sobre a Nutrição, disse que uma das graves incoerências que estávamos chamados a considerar é o facto de haver comida suficiente para todos mas «nem todos podem comer, enquanto o desperdício, o descarte, o consumo excessivo e o uso de alimentos para outros fins estão diante dos nossos olhos» (Discurso à Plenária da Conferência, 20/XI/2014).
Fique claro que a falta de comida não é uma coisa natural, não é um dado óbvio nem evidente. O facto de hoje, em pleno século XXI, muitas pessoas sofrerem deste flagelo deve-se a uma egoísta e má distribuição dos recursos, a uma «mercantilização» dos alimentos. A terra, maltratada e abusada, continua em muitas partes do mundo a dar-nos os seus frutos, continua a brindar-nos com o melhor de si mesma; os rostos famintos lembram-nos que desvirtuamos os fins da terra. Um dom, que tem finalidade universal, tornamo-lo um privilégio de poucos. Fizemos dos frutos da terra – dom para a humanidade – mercadoria de alguns, gerando assim exclusão. O consumismo – que permeia as nossas sociedades – induziu a habituar-nos ao supérfluo e ao desperdício diário de comida, a que por vezes já não somos capazes de dar o justo valor e que se situa para além de meros parâmetros económicos. Far-nos-á bem recordar que o alimento desperdiçado é como se fosse roubado à mesa do pobre, de quem tem fome. Esta realidade solicita-nos a refletir sobre o problema da perda e desperdício de alimentos, a fim de individuar vias e modalidades que, enfrentando seriamente tal problemática, sejam veículo de solidariedade e partilha com os mais necessitados [cf. Catequese de 5 de junho de 2013: Insegnamenti, I/1 (2013), 280].
2. Desburocratizar a fome
Devemos dizê-lo sinceramente! Há questões burocratizadas; há ações que estão «engarrafadas». A instabilidade mundial que vivemos é bem conhecida por todos. Nos tempos recentes, são as guerras e as ameaças de conflito o que predomina nos nossos interesses e debates. E assim, perante a diversa gama de conflitos existentes, parece que as armas tenham adquirido uma preponderância de tal modo fora do comum, que acantonaram totalmente outras maneiras de solucionar as questões em liça. Esta preferência já está de tal modo enraizada e assumida, que impede a distribuição de alimentos nas zonas de guerra, chegando mesmo à violação dos princípios e diretrizes mais basilares do direito internacional, cuja vigência remonta a muitos séculos atrás. Encontramo-nos assim perante um fenómeno estranho e paradoxal: enquanto as ajudas e os planos de desenvolvimento se veem obstaculizados por intrincadas e incompreensíveis decisões políticas, por tendenciosas visões ideológicas ou por insuperáveis barreiras alfandegárias, as armas não; não importa a sua origem, circulam com uma liberdade jactanciosa e quase absoluta em muitas partes do mundo. E assim nutrem-se as guerras, não as pessoas. Nalguns casos, usa-se a própria fome como arma de guerra. E as vítimas multiplicam-se, porque o número das pessoas que morrem de fome e depauperação soma-se ao dos combatentes que morrem no campo de batalha e a tantos civis mortos nos conflitos e nos atentados. Temos plena consciência disto, mas deixamos que a nossa consciência se anestesie tornando-se desta forma insensível, porventura recorrendo a palavras para se justificar (tais como: não se pode enfrentar tantas tragédias) que é a anestesia mais grave. Assim, a força transforma-se no nosso único modo de agir; e o poder, no objetivo perentório a alcançar. As populações mais frágeis não só padecem os conflitos bélicos, mas ainda veem travado todo o tipo de ajuda. Por isso, urge desburocratizar tudo quanto impeça que os planos de ajuda humanitária alcancem os seus objetivos. Nisto, vós tendes um papel fundamental porque precisamos de verdadeiros heróis capazes de abrir sendas, lançar pontes, simplificar procedimentos de modo que o acento seja posto no rosto de quem sofre. Para esta meta se devem orientar igualmente as iniciativas da comunidade internacional.
Não é questão de harmonizar interesses, que permanecem ancorados a visões nacionais centrípetas ou a egoísmos inconfessáveis. Trata-se, antes, de que os Estados membros incrementem decididamente a sua vontade real de cooperar para estes fins. Por esta razão, será muito importante que a vontade política de todos os países membros consinta e incremente decididamente a vontade efetiva de cooperar com o Programa Alimentar Mundial, para que este possa não só responder às urgências, mas também realizar projetos sólidos e consistentes e promover programas de desenvolvimento a longo prazo, segundo as solicitações de cada um dos governos e de acordo com as necessidades dos povos.
Com a sua trajetória e atividade, o Programa Alimentar Mundial demonstra que é possível coordenar conhecimentos científicos, decisões técnicas e ações práticas com os esforços destinados a mobilizar recursos e a distribuí-los equitativamente, isto é, respeitando as exigências de quem os recebe e a vontade do doador. Este método pode e deve garantir, nas áreas mais deprimidas e pobres, o adequado desenvolvimento das capacidades locais e eliminar gradualmente a dependência externa, consentindo ao mesmo tempo de reduzir a perda de alimentos, para que nada se desperdice. Numa palavra, o PAM é um válido exemplo de como se pode trabalhar em todo o mundo para erradicar a fome através duma melhor atribuição dos recursos humanos e materiais, fortalecendo a comunidade local. Neste sentido, encorajo-vos a prosseguir. Não vos deixeis vencer pelo cansaço (que é tanto), nem permitais que as dificuldades vos façam desistir. Acreditai naquilo que fazeis e continuai a fazê-lo com entusiasmo, que é o modo como pode germinar com força a semente da generosidade. Permiti-vos o luxo de sonhar. Precisamos de sonhadores que façam avançar estes projetos.
Fiel à sua missão, a Igreja Católica quer trabalhar em concertação com todas as iniciativas que visam a salvaguarda da dignidade das pessoas, especialmente de quantas estão feridas nos seus direitos. Para se tornar realidade esta prioridade urgente da «fome zero», asseguro-vos todo o nosso apoio e sustentáculo para favorecer todos os esforços empreendidos.
«Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber». Nestas palavras, temos uma das máximas do cristianismo; mas esta frase, independentemente de credos e convicções, poderia ser oferecida como regra de ouro para os nossos povos: tanto para um povo, como para a humanidade inteira. A humanidade joga o seu futuro na capacidade que tem de assumir a fome e a sede dos seus irmãos. Nesta capacidade de socorrer o faminto e o sedento, podemos medir o pulso da nossa humanidade. Por isso desejo que a luta para erradicar a fome e a sede dos nossos irmãos, e juntamente com os nossos irmãos, continue a interpelar-nos; que não nos deixe dormir e nos faça sonhar (as duas coisas juntas); que nos interpele para se buscar criativamente soluções de mudança e transformação.
E que Deus Todo-Poderoso sustente com a sua bênção o trabalho das vossas mãos. Obrigado!

“Mais cedo ou mais tarde somos chamados a encarar e, às vezes, a lutar contra as fragilidades e as doenças” Ao receber pessoas doentes, Papa Francisco disse que o homem de hoje vive uma grande ilusão quando fecha os olhos à enfermidade e à deficiência

O Jubileu dos Enfermos e das Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais terminou nesse domingo, (12/06), com a Missa presidida pelo Papa Francisco na Praça São Pedro.
Em sua homilia, Francisco recordou que, todos nós, “mais cedo ou mais tarde somos chamados a encarar e, às vezes, a lutar contra as fragilidades e as doenças, nossas e alheias”, para descobrir o verdadeiro sentido da vida.
E alertou: “Diante disso, em nosso íntimo, pode algumas vezes sobrevir uma atitude cínica, como se fosse possível resolver tudo suportando ou contando apenas com as próprias forças”.
Olhar para dentro e despertar
Confiamos nos avanços da ciência com a certeza de que, em algum lugar, haverá um remédio. Se houvesse, todavia, estaria acessível a poucos. E a natureza humana – recordou o Papa – “ferida pelo pecado”, é em si mesma cheia de limitações.
Portanto, somos todos insuficientes em algum ponto, mesmo que não estejamos doentes ou sejamos portadores de necessidades especiais. E, mesmo assim, somos capazes de “segregar” o nosso semelhante.
Neste ponto, Francisco destacou que hoje é tido como improvável a possibilidade dos doentes ou pessoas especiais serem felizes, uma vez que não se inserem no “estilo de vida imposto pela cultura do prazer e da diversão”.
Falso bem-estar
“Em um tempo como o nosso, em que o cuidado do corpo se tornou um mito de massa e, consequentemente, um negócio, aquilo que é imperfeito deve ser ocultado, porque atenta contra a felicidade e a serenidade dos privilegiados e põe em crise o modelo dominante”.
Neste contexto – prosseguiu o Pontífice – seria melhor manter tais pessoas segregadas em um “recinto” qualquer – eventualmente cor de rosa – ou em “’espaços’ criados por um assistencialismo compassivo, para não atrapalhar o ritmo de um falso bem-estar”.
E, às vezes, até defende-se que o melhor seria livrar-se logo dessas pessoas, que custam caro em tempos de crise
“Na realidade, porém, como é grande a ilusão em que vive o homem de hoje, quando fecha os olhos à enfermidade e à deficiência! Não compreende o verdadeiro sentido da vida, que inclui também a aceitação do sofrimento e da limitação”.
Fraco confunde o forte
Ilusão também seria acreditar que o mundo seria melhor se houvesse somente pessoas “aparentemente perfeitas” – para não dizer maquiadas, acrescentou o Papa. Ao contrário: o mundo será melhor somente quando “crescem a solidariedade, a mútua aceitação e o respeito entre os seres humanos”.
“Como são verdadeiras as palavras do Apóstolo: ‘O que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte’”, disse Francisco, ao afirmar que entre as doenças atuais mais frequentes estão aquelas espirituais.
“Quando se experimenta a decepção ou a traição nas relações importantes, então nos descobrimo vulneráveis, fracos e sem defesas. Consequentemente, torna-se muito forte a tentação de se fechar em si mesmo e corre-se o risco de perder a ocasião da vida: amar apesar de tudo”.
Amor que cura
“O verdadeiro desafio é o de quem ama mais”, repetiu o Papa. E Jesus é o médico de amor que pode dar vida nova às pessoas doentes e especiais – e a quem com elas convive!
“Jesus é o médico que cura com o remédio do amor, porque toma sobre Si o nosso sofrimento e redime-o. Sabemos que Deus pode compreender as nossas enfermidades, porque Ele mesmo foi pessoalmente provado por elas”.
E concluiu: “O modo como vivemos a doença e a deficiência é indicação do amor que estamos dispostos a oferecer. A forma como enfrentamos o sofrimento e a limitação é critério da nossa liberdade em dar sentido às experiências da vida, mesmo quando nos parecem absurdas e não merecidas”.

Papa institui a festa de Maria Madalena

Por vontade do Papa Francisco, a Congregação para o Culto elevou a memória de Santa Maria Madalena, com um decreto assinado pelo cardeal Robert Sarah, ao grau de festa. O documento tem a data de 03 de junho, solenidade do Sagrado Coração de Jesus. O secretário do dicastério, o arcebispo Arthur Roche que também assinou o decreto, explica que esta decisão “inscreve-se no atual contexto eclesial, que pede uma reflexão maior e mais profunda sobre a dignidade da mulher, a nova evangelização e a grandeza do mistério da misericórdia divina”.
João Paulo II, recordou Roche, foi quem dedicou “uma grande atenção não apenas à importância das mulheres na própria missão de Cristo e da Igreja, mas também, e com uma insistência especial, à peculiar função de Maria Madalenacomo primeira testemunha que viu o Ressuscitado e primeira mensageira que anunciou aos apóstolos a ressurreição do Senhor. Esta importância prossegue hoje na Igreja (uma manifestação disso é o atual compromisso de uma nova evangelização), que quer acolher sem nenhuma distinção homens e mulheres de qualquer raça, povo, língua ou nação para anunciar sua boa nova do Evangelho”. Santa Maria Madalena é representada como um exemplo de “verdadeira e autêntica evangelização”, que anuncia “a alegre mensagem central da Páscoa”.
O Papa tomou esta decisão durante o Jubileu da Misericórdia, explicou mons. Roche, para ressaltar “a relevância desta mulher que demonstrou um grande amor a Cristo e que foi tão amada por Cristo”. Maria Madalena fazia parte do grupo dos discípulos de Jesus, seguiu-o até a Cruz e, no jardim em que se encontrava o sepulcro, foi a primeira testemunha da ressurreição, “testis divinae misericordiae”, como a definiu Gregório Magno. O Evangelho de João descreve-a chorando, porque não havia encontrado o corpo do Senhor no sepulcro: “Jesus – recordou mons. Roche – teve misericórdia dela ao deixar-se reconhecer como Mestre e ao transformar suas lágrimas em alegria pascoal”.
“Cristo – prosseguiu o arcebispo – tem uma espécie de consideração e misericórdia por esta mulher, que manifesta seu amor para com Ele procurando-o no jardim com angústia e sofrimento”, com essas que Santo Anselmo definiu como “lágrimas da humildade”. Santo Tomás disse que era “apóstola dos apóstolos”, porque foi ela quem anunciou aos discípulos atemorizados e trancados no cenáculo o que eles, por sua vez, tinham que anunciar por todo o mundo.
“Por isso, é justo – concluiu Roche – que a celebração litúrgica desta mulher tenha o mesmo grau de festa outorgado às celebrações dos apóstolos no Calendário Romano Geral e que ressalte a especial missão desta mulher, que é um exemplo e modelo para todas as mulheres na Igreja”.
A tradição – escreveu o cardeal Gianfranco Ravasi – “repetida mil vezes na história da arte e que perdura até os nossos dias, fez de Maria uma prostituta. Isto aconteceu somente porque na página evangélica precedente (o capítulo 7 de Lucas) é narrada a história da conversão de uma anônima ‘pecadora conhecida naquela cidade’, aquela que havia untado os pés de Jesus com óleo perfumado, hóspede em uma casa de um conhecido fariseu, molhou-os com suas lágrimas e secou-os com seus cabelos. E assim se havia identificado, sem nenhuma relação textual real, Maria Madalena com aquela prostituta sem nome. Pois bem, este mesmo gesto de veneração será repetido com Jesus por outra Maria, a irmã de Marta e Lázaro, em outra ocasião (Jo 12, 1-8). E assim consumou-se mais um equívoco em relação a Maria de Mágdala: algumas tradições populares identificam-na com esta Maria de Betânia, depois de ter sido confundida com a prostituta da Galileia”.
(Vatican Insider)
(IHU)